a nudez em família deve ser encarada como algo natural?

Heloísa Noronha

Tomar banho junto com os filhos, dormir sem roupa, andar pelado pela casa na frente das crianças... Como em várias situações da vida, a nudez em família tem prós e contras a se pesar. A seguir, veja diferentes visões sobre o tema:... -


Sim porque...
... cada família tem seu jeito de ser!

Se encarar a nudez com naturalidade faz parte do conjunto de crenças da família, qual o problema? "É tudo uma questão de perspectiva. O que é normal para uma família, pode ser patológico para outra, e vice-versa", comenta Deborah Moss, neuropsicóloga especialista em comportamento infantil e mestre em Psicologia do Desenvolvimento pela USP (Universidade de São Paulo). Para algumas, a relação com a nudez pode vir junto a questão de gênero: as meninas e as mães podem ficar despidas uma na frente da outra, o que já não ocorre entre a menina e o pai. No caso dos meninos, é exatamente o oposto. Tudo depende do quanto as pessoas se sentem bem e confortáveis.

... nudez não tem nada a ver com sexualidade... 

Ultimamente, tem havido muita confusão sobre certos conceitos. Segundo especialistas, é comum que as pessoas mais conservadoras associem a nudez ao sexo, à pornografia e até à promiscuidade, mas são coisas totalmente diferentes. Circular pela casa sem roupa e tomar banho com os filhos não tem cunho sexual. Não há toque, nem abuso. É uma situação doméstica natural, sem riscos para o desenvolvimento infantil.

NÃO, quando...
 ... é uma atitude forçada...

"O problema é quando as pessoas tentam forçar. Por exemplo: um pai que leu que ficar nu na frente do filho favorece sua formação. Porém, age com tensão, se esconde, faz de um jeito forçado e falso. Isso chama a atenção da criança, que pode pensar que ficar nu provoca tensão", explica Edimara Lima, diretora da ABPp (Associação Brasileira de Psicopedagogia) e diretora pedagógica da Prima Escola Montessori, em São Paulo.

... surge constrangimento e vergonha... 

"Se a criança se cobre no momento em que você entra no local onde ela está se despindo ou desvia o olhar quando os pais estão tirando a roupa, é óbvio que o sentimento é de desconforto", diz Monica Pessanha, psicopedagoga e psicanalista infantil e de adolescentes, de São Paulo. "Quando surge constrangimento e vergonha, o comportamento tem de ser interrompido. Se a naturalidade desaparece, não há sentido em continuar", fala Edimara. Em geral, na pré-adolescência, meninos e meninas começam a sentir mais vergonha do próprio corpo e do corpo do outro, que a relação com nudez deve ser reavaliada. "Todos devem ser respeitados em seus limites e vontades", afirma Deborah. Para Monica, esse cuidados evitam más interpretações e confusões.

3 pontos de vista

"No dia a dia, tomo banho com os dois mais novos. Mas há dias em que tomo com todos ou o pai com todos. Se isso não fere a privacidade de ninguém, não vejo problemas. Há dias em que digo a eles que preciso entrar no chuveiro sozinha, para ter um tempo só meu. Eles entendem e também pedem para tomar banho sozinhos de vez em quando. Falamos muito sobre privacidade e respeito aqui em casa. Acho que a idade vai trazer mais privacidade para eles. O mais velho, aliás, já toma banho sozinho. O lado ruim são as vaciladas com a janela aberta e, quando viajamos com amigos, por exemplo, os menores acham normal saírem pela casa pelados. Aí eu preciso explicar sobre limites, dizer onde se pode ficar mais à vontade ou não. Eu acho que forçar a barra em qualquer situação é o que pega. Se a criança ainda pede a companhia dos pais numa situação 'pelada', não há por que não estar ali. O toque de pele no momento do banho, por exemplo, transmite muita segurança e afeto para a criança. Por que privá-la disso e adotar uma fala que beira a sexualidade quando ela ainda não está preparada para isso? Só não gosto que fiquem fazendo peripécias pelados. Tudo tem limite. Digo que não sou obrigada a ver detalhes da intimidade deles, aviso que precisam ter modos! (risos)".

Milene Massucato, 37 anos, mãe de Nicolas, 8, Lorena, 5, e Leonardo, 2


"Fui criada totalmente à vontade com a nudez. Não conheço outra forma de agir, porque, para mim, andar pelada pela casa é natural. Meus pais me ensinaram a pensar assim, mas minha avó não se conformava! Quando fico hospedada na casa deles, tomamos banho de porta aberta, é normal! Mas meu irmão mais velho, quando entrou na adolescência, não gostava mais de ficar pelado na nossa frente. E tudo bem, ninguém desrespeitava. Antes de engravidar, conversei abertamente sobre isso com meu marido. Ele era um pouco relutante, mas desde que a Celina nasceu os dois tomam banho juntos. Recentemente, perguntei se ele vai continuar andando pelado na frente dela até alguma idade específica, mas ele não soube responder. Ele acha que é bom que a criança enxergue a nudez com naturalidade, mas desde que os hábitos da família sejam bem explicados. Tem que ficar claro que é natural, mas naquele ambiente e com aquelas pessoas. Não posso julgar, mas acho triste que as pessoas vejam o corpo nu como 'imoral'. Somos todos iguais. Nudez não é pornografia, muito menos pedofilia. Principalmente na relação de pais e filhos." 

Marcela Pereira de Almeida Fregonezi, 34, mãe de Celina, 1 ano e meio

"Eu acho que a nudez vem sendo banalizada demais e meninos e meninas estão sendo expostos a coisas desnecessárias desde muito cedo. Se as crianças ainda são pequenas e dependentes, não vejo problema em tomar banho junto. Conforme vão crescendo, porém, vai ficando esquisito, ainda mais se for menina com o pai ou menino com a mãe. E não acho que andar pela casa sem roupa seja normal. Cada um com suas escolhas, mas aqui em casa valorizamos nossa privacidade."

 Sandra Cristina Pereira, 35 anos, mãe de Caíque, 6, e Giovanna, 3. 
 


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